Energias limpas ao alcance de todos é ponto a favor da gestão do saneamento ambiental

Artigo elaborado pelo Prof. Dr. Fernando Codelo Nascimento* Publicado e enviado pela Revista SANEAS edição 85 * Editado por Ambiente do Meio

O cenário para o desenvolvimento das energias limpas em nível global é muito promissor. No Brasil, segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a energia renovável deve alcançar a participação entre 45% a 50% da matriz energética nacional em 2030. Além de fomentar investimentos nessa área, essa é a principal estratégia de mitigação de emissões de gases do efeito estufa (GEE) do setor de energia. O estudo propõe a redução de 50% das emissões até 2030 e os meios sugeridos são a ampliação de projetos de energias renováveis, como fonte eólica, solar, biomassa, além do incentivo para a fabricação e uso de veículos elétricos e híbridos, aumentando eficiência dos automóveis, para reduzir a pegada de carbono com os biocombustíveis.

Fonte URFJ. 2023

O consumo de energia per capita no Brasil deve aumentar em 18% de 2019 a 2029. Por isso, com o aumento da demanda, a oferta precisa ser ampliada e o foco será dado às energias limpas. Neste ponto, aproveito para ressaltar que “energia limpa” e “energia renovável” são dois conceitos que costumam estar interligados, mas não têm o mesmo significado. A principal das diferenças entre elas está na poluição. 

Que tal refletir um pouco:

As energias renováveis, por mais surpreendente que possa parecer, podem causar poluição. Por exemplo, o biogás eo biodiesel são fontes de energia renováveis por, entre outras coisas, terem suas origens naturais e inesgotáveis. Porém, diferentemente da maioria das energias renováveis, poluem ao serem colocados em combustão, emitindo GEE. Já as energias limpas não poluem e, portanto, pode-se afirmar que a maioria das fontes de energias renováveis também é limpa e vice-versa. Os principais tipos de energia limpa são: energia eólica (onshore e offshore), energia solar fotovoltaica, energia geotérmica, energia dos mares, energia hidrelétrica, energia de biomassa e energia nuclear. 

É importante ressaltar que as energias limpas desempenham um papel fundamental no âmbito da sustentabilidade, por comporem o seu tripé (ambiental, social e econômico), notadamente devido aos seguintes aspectos, conforme apresenta do site Liberdrola (2023):

  • São ecológicas: devido as formas de energias limpas não contribuírem para a geração de gases de efeito estufa nem outras emissões poluentes ;
  • São ilimitadas: a maioria é obtida de recursos inesgotáveis da natureza ou têm uma rápida regeneração, razão pela qual pode-se usá-las de forma permanente e ilimitada.
  • São seguras: não apresentam risco e tão pouco geram resíduos que possam comprometer o meio ambiente;
  • Facilitam a independência energética: ao serem produzidas a partir de recursos naturais, encontrados em todoplaneta, permitem aos países desenvolverem tecnologias próprias e não criam dependência energética de outros países;
  • Promovem a criação de empregos e incentivam a economia local: por necessitarem de muita mão de obra tanto para a construção, manutenção e operação. Criando postos de trabalho e dinamizando a economia.

Entre as tendências globais em relação à produção de energias limpas e/ou sustentáveis, destacamos as seguintes fontes:

  1. Smart Grids, ou redes inteligentes, são sistemas de distribuição e transmissão de energia elétrica que utilizam recursos digitais e da Tecnologia da Informação. Por meio delas, o sistema opera de forma mais eficiente, com maior controle do fluxo de energia e, consequentemente, passa a ser mais sustentável( GEE do Brasil, 2016) . 
  2. Hidrogênio Verde – O hidrogênio verde (H2V) é obtido por meio da eletrólise da água, utilizando energia limpa e renovável, sem emissões de CO2. Esse processo separa hidrogênio e oxigênio da água através de corrente elétrica, exigindo fontes limpas como solar, hídrica ou eólica. No Brasil, o hidrogênio verde pode ser usado para armazenar energia renovável em períodos de alta produção e baixa demanda elétrica (CNI, 2019). 
  3. As usinas hidrelétricas reversíveis (UHR) são caracterizadas pela presença de mecanismos de armazenamento de energia excedente para posterior uso em períodos de picos de demanda. De forma geral, este modelo de usina utiliza um sistema turbo-bomba, podendo funcionar em ciclos de operação diários, semanais e sazonais. Nestas usinas, a água é bombeada de um reservatório inferior, normalmente durante o período de baixa demanda de energia, para um reservatório superior, por meio de uma turbina-bomba. Quando se deseja consumir a energia armazenada, faz-se o processo reverso, no qual a água deixa o reservatório superior em direção ao inferior, movimentando, neste percurso, as turbinas hidráulicas e gerando energia elétrica (CASTRO, N; BRANDÃO, R e CATOLICO, A.C, 2014) . 

UHR.Fonte Linkedin. 2023

No que tange ao desenvolvimento sustentável, as energias limpas também influenciam para uma melhor gestão do saneamento ambiental, uma vez que é uma área que cuida desde a produção de água até o tratamento final dessa e dos seus efluentes, portanto, considera-se que as energias limpas contribuem por gerar menos resíduos e efluentes. Além disso, a energia limpa contribui de forma positiva para o desenvolvimento sustentável global, ao manter o pensamento local, com as soluções regionais aplicadas em cada cidade, por meio de novas formas de geração de energia, como PCHs (pequenas centrais hidrelétricas), geração eólica e solar. Estas contribuem para o saneamento ao minimizar a geração de efluentes e resíduos. Dessa forma, a produção de energias limpas coloca-se ao alcance de todos, sendo, portanto, um ponto a favorável a gestão do saneamento ambiental no Brasil e no mundo.

Baseado neste breve cenário, deixa-se como mensagem aos profissionais que atuam no setor de saneamento e sustentabilidadepara que não deixem de acreditar no Brasil, um país com uma riqueza natural fantástica, uma matriz energética invejável, eclética, e que em 2030 poderá chegar a 50% de energia renovável. Faça a sua parte! Contribua economizando energia, estude, pesquise, quem sabe se a partir destas atitudes você, que atua no setor, possa encontrar outras formas de produzir energia limpa e sustentável! 

Referencias 

  1. GNPW Group. Matriz renovável brasileira poderá ser 50% renovável em 2030. Disponível em <https://www.gnpw.com.br/energia-renovavel/matriz-energetica-brasileira-podera-ser-50-renovavel-em-2030/#:~:text=Com%20o%20sucessivo%20crescimento%20nos,aumento%20de%209%2C5%20GW&gt;
  2.  LIBERDROLA. O que são as energias limpas? 2023. Disponível em <https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/energias-limpas>
  3. GE do BRASIL. Você sabe o que é smart grid? 2016 Disponível em <https://gereportsbrasil.com.br/voc%C3%AA-sabe-o-que-%C3%A9-smart-grid-tire-suas-d%C3%BAvidas-no-ge-reports-brasil-191fc22998c4&gt;
  4. CASTRO, Nilvalde de; BRANDÃO, Roberto e CATÓLICO, Ana Carolina. Usinas hidrelétricas reversíveis – um novo negócio. GESEL. UFRJ, 2014. Disponível em <https://www.gesel.ie.ufrj.br/app/webroot/files/publications/12_castro178.pdf&gt;
  5. CNI. Hidrogênio verde. 2023 . disponível em <https://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/hidrogenio-verde/&gt;

Sobre o autor:

Engenheiro químico, especialista em Gestão Ambiental, pela FSP/USP Mestre em Educação, pela UNISAL, Doutor em Ciências IPEN/USP, Pós-doutorando pelo IPEN/USP. É professor da graduação e pós-graduação do IPOG, FIB BAURU e professor Tutor do 1ª e do  2º Curso de pós-graduação em Empreendedorismo e Inovação nas Engenharias da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; UNIVESP E CREA-SP. Consultor em SGA, SGQ E SGI e auditor Líder em SGA e SGQ. 

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