Olimpíadas sustentáveis, mãos à obra!

Por:  Alexandra Lichtenberg

Nas Olimpíadas de Sydney 2000, que pretenderam ser as primeiras Olimpíadas verdes, não tínhamos ainda a verdadeira dimensão da necessidade premente de redução de emissões de gases do efeito estufa. A partir de 2007 e das constatações do IV relatório do IPCC sobre as consequências das mudanças climáticas, ficou claro que qualquer grande evento tem que ser sustentável, não apenas para reduzir as emissões de GEE e reduzir o consumo de recursos, mas também pelo marketing social positivo como fator educacional – mostrando ao público ao redor do mundo os benefícios da sustentabilidade e da eficiência do uso de recursos. Servir como indutor de iniciativas similares, não só em relação aos Jogos Olímpicos, mas no planejamento urbano de cidades e de organizações. Vancouver 2010 (Jogos de Inverno) e Londres 2012 já estão neste caminho. E nós não podemos e não iremos ficar para trás. Para obter sucesso nesta empreitada, é imprescindível que seja feito um excelente planejamento estratégico desde o inicio, estabelecendo-se diretrizes específicas e cuidadosas para os Jogos como um todo. Tal planejamento deve ser sistêmico, para que as sinergias de cada área sejam aproveitadas. Será necessário analisar e aproveitar tecnologias inovadoras. Temos 7 anos pela frente – por que não fazer o planejamento utilizando esta linha de tempo, para que o produto final espelhe o estado-da-arte em sustentabilidade, à época dos Jogos? E isto especialmente na área de transportes, que tem sido um enorme desafio em todas as grandes cidades do mundo. O planejamento da implantação das melhorias ao longo do tempo deve ser casado com outros dois grandes eventos: a Copa do Mundo de 2014, e os Jogos Mundiais Militares de 2011. Se por um lado isto torna a tarefa um pouco mais difícil em termos de estabelecer prioridades e o tempo correto para a entrega de vários produtos para cada um destes eventos, por outro lado teremos como que um campo de testes para chegar às Olimpíadas Rio 2016 em “ponto de bala”. Que conjunto de oportunidades único! Como as tarefas adiante irão consumir grande quantidade de recursos, é prudente que os mesmos sejam investidos através da abordagem do planejamento da visão sistêmica do todo. Os itens edificações, energia, saneamento, uso do solo, resíduos sólidos e transporte estão todos interligados, e o uso correto das sinergias entre cada um e todos trará grande e importante economia destes recursos.Com o enorme numero de obras de infraestrutura e edificações que serão necessárias fazer para os Jogos, é imprescindível que estejamos atentos principalmente quanto a eficiência das mesmas no consumo de energia e de água. É preciso fazer as contas utilizando a abordagem do custo do ciclo de vida. Porque nós mesmos iremos pagar a conta caso isto não seja atingido – conta acima do necessário (e suportável?) no consumo de insumos e na emissão de gases de efeito estufa, e a conta de ter perdido esta grande oportunidade de mostrar ao mundo que sabemos fazer o dever de casa.  Como conseguir isto? É simples. Projetar de acordo com o clima local. E fica aqui um alerta – devemos parar de fazer de conta que utilizar certificações ambientais estrangeiras para nossas edificações faz com que elas sejam eficientes. Isto não acontece. Tais certificações são baseadas em estimativas de projeto, utilizando dados de desempenho de materiais projetados para o hemisfério norte. Parafraseando o ex-prefeito Israel Klabin em recente artigo, isto não é sábio. Não é necessário ser físico ou engenheiro especialista para entender que a mesma tipologia de edificação, em fachada de vidro por exemplo, que torna um edifício eficiente energeticamente em Nova Iorque ou Oslo, não pode ter o mesmo desempenho em climas tão diferentes como na Cidade do México ou no Rio de Janeiro! Como posso ter tanta certeza disto? Testei esta hipótese em minha tese de mestrado na UFRJ. Devemos investir em projetos específicos para o nosso clima, que fornecerão mais conforto ambiental aos usuários ao mesmo tempo em que emitem menos gases de efeito estufa nas fases de construção, e de uso e manutenção, economizando energia, água e outros insumos. A necessária expansão trazida por estes grandes eventos irá provocar um grande crescimento da demanda por estes recurs- sabendo usar, não vai faltar. Mãos a Obra!

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