Rachel Salvidge/ The Gardian

Uma substância encontrada em centenas de amostras de água potável em toda a Inglaterra foi classificada como cancerígena pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A medida aumentará a pressão sobre o governo do Reino Unido para tomar medidas sobre “produtos químicos para sempre”.

O ácido perfluorooctanóico (PFOA) é um dos cerca de 10.000 produtos químicos dentro da família de substâncias per- e polifluoroalquil (PFAS) que são usados em uma ampla gama de produtos, de cosméticos a roupas e embalagens de alimentos, bem como em processos industriais e em espumas de combate a incêndio. O PFOA e outro membro da família, o ácido perfluorooctanossulfônico (PFOS), foram amplamente proibidos, mas permanecem no ambiente por causa de sua persistência. Estudos têm ligado a família de produtos químicos PFAS a cânceres, imunodeficiências, danos reprodutivos e efeitos no desenvolvimento em crianças. Eles não são facilmente metabolizados pelo corpo, então se acumulam em humanos e animais ao longo do tempo.

O PFOA tem sido associado ao câncer há algum tempo, mas um crescente corpo de evidências significa que agora foi atualizado para “categoria um”, o que significa que é “cancerígeno para os seres humanos”, de acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) da OMS.

Um relatório recente da Inspeção de Água Potável (DWI) mostra que aproximadamente 12.000 amostras retiradas de fontes de água potável contêm pelo menos um PFAS de algum tipo.

A maior concentração de PFOA detectada em uma fonte de água potável foi de 149 nanogramas por litro (ng/l), 1,5 vezes o limite máximo do DWI para água da torneira. O PFOS, classificado pela IARC como um “possível carcinógeno”, foi encontrado em níveis tão altos quanto 1.869ng/l, embora esses níveis tenham sido diluídos antes de chegar a uma torneira.

A análise de dados da Agência Ambiental e da empresa de água pela Watershed Investigations mostrou que o PFOA foi detectado em quase 1.000 fontes de água potável amostradas entre 2006 e 2022. E a amostragem de água da torneira em toda a Inglaterra encontrou PFOA em mais da metade das 45 amostras coletadas, embora abaixo de 10ng/l, consideradas de “baixo risco” pelo DWI.

No início deste ano, o Guardian and Watershed Investigations descobriu que o efluente do local de uma empresa de produtos químicos que flui para um rio protegido em Lancashire continha “níveis extremamente altos” de PFOA.

O governo foi acusado de arrastar os pés sobre a tomada de medidas sobre PFAS em comparação com a UE, que está considerando uma regulamentação mais rigorosa em todas as cerca de 10.000 substâncias.

A Inglaterra está atrás da UE em limites de água potável: o DWI permite até 100ng/l para PFOA e PFOS, enquanto a UE aplica um limite de 100ng/l para a soma de 20 PFAS. A Dinamarca estabeleceu um limite de apenas 2ng/l para quatro PFAS individuais, e a Agência de Proteção Ambiental dos EUA propôs reduzir os limites de alguns para 4ng/l.

O Dr. Patrick Byrne, da Universidade John Moores de Liverpool, disse: “Recentemente, a Royal Society of Chemistry pediu ao governo que reduzisse o nível máximo permitido de PFAS individuais, como PFOA, na água potável de 100ng/l para 10ng/l. Isso é para alinhar o Reino Unido com outros países, como os EUA, que estão propondo uma concentração máxima permitida para PFOA de 4ng/l.

“Os regulamentos e padrões ambientais do Reino Unido devem acompanhar as evidências científicas e médicas para proteger nossa água potável e nós.”

Hannah Evans, da ONG de produtos químicos Fidra, disse que as categorizações são “extremamente alarmantes” e destacou a necessidade urgente de ação regulatória sobre PFAS. “Devemos aproveitar esta oportunidade para aprender com casos como PFOS e PFOA, e fazer a transição para uma economia livre de PFAS o mais rápido e eficaz possível.”

Philippe Grandjean, professor e presidente de medicina ambiental da Universidade do Sul da Dinamarca, disse que os produtos químicos PFAS foram “transferidos de uma mãe grávida através de sua placenta para seu feto, e eles são excretados em seu leite. Assim, uma criança amamentada recebe uma dose relativamente grande … portanto, vemos anormalidades como colesterol elevado e metabolismo deficiente da glicose em crianças com exposições elevadas a PFAS. Além disso, o sistema imunológico é prejudicado. Isso tem implicações para doenças infecciosas, mas também pode ser importante para o desenvolvimento do câncer, onde as células imunológicas devem remover células anormais.”

Um porta-voz da Defra disse: “A qualidade da água potável na Inglaterra é de um padrão excepcionalmente alto e está entre as melhores do mundo. As empresas de água são obrigadas a realizar avaliações de risco regulares e amostragem de qualquer substância – incluindo PFAS – que acreditem que possa causar um risco para a saúde humana.

“O trabalho continua em todo o governo para nos ajudar a avaliar os níveis de PFAS que ocorrem no ambiente, suas fontes e riscos potenciais para informar futuras abordagens políticas e regulatórias”