Guterres: “Neste momento de crise, as Nações Unidas nunca foram tão essenciais” Apelo a Paz

Discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura do Debate Geral da 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 23 de setembro de 2025

Deixe-me começar com duas palavras que não temos dito com frequência suficiente neste Salão:

António Guterres, secretário-geral da ONU, falando no pódio durante a 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, com o logotipo da ONU ao fundo.

Foto: © ONU/Loey Felipe.

Senhora Presidente,

Excelências,

Senhoras e senhores,

Há oitenta anos, em um mundo devastado pela guerra, os líderes fizeram uma escolha: 

Cooperação em vez de caos.

Lei em vez de ilegalidade.

Paz em vez de conflito.

Essa escolha deu origem às Nações Unidas — não como um sonho de perfeição, mas como uma estratégia prática para a sobrevivência da humanidade. 

Muitos de nossos fundadores viram em primeira mão o inferno dos campos de extermínio e o terror da guerra.

Eles sabiam que a verdadeira liderança significava criar um sistema para impedir que esses horrores se repetissem.

Uma barreira contra as chamas do conflito e a Terceira Guerra Mundial.

Um fórum para que os Estados soberanos busquem o diálogo e a cooperação.

E uma afirmação concreta de uma verdade humana essencial: Estamos todos juntos nisso.

Este Salão da Assembleia Geral é o coração dessa verdade.

É por isso que, durante décadas, os líderes mundiais têm vindo a este pódio único. É por isso que vocês estão aqui hoje.

Porque, na melhor das hipóteses, as Nações Unidas são mais do que um local de encontro.

  • São uma bússola moral.
  • Uma força para a paz e a manutenção da paz.
  • Um guardião do direito internacional.
  • Um catalisador para o desenvolvimento sustentável.
  • Uma tábua de salvação para pessoas em crise.
  • Um farol para os direitos humanos.
  • Um centro que transforma suas decisões — as decisões dos Estados-membros — em ação.

Oitenta anos depois, enfrentamos novamente a questão que nossos fundadores enfrentaram, só que agora mais urgente, mais interligada, mais implacável: Que tipo de mundo escolhemos construir juntos?

Excelências,

Imagem da Assembleia Geral da ONU, com um grande público e um palco onde um orador está falando, capturando um momento do Debates Gerais da 80ª sessão.
Foto: © ONU/Loey Felipe.

Temos um trabalho árduo pela frente… à medida que nossa capacidade de realizar esse trabalho está sendo reduzida. 

Entramos em uma era de perturbações imprudentes e sofrimento humano implacável.

Olhem ao seu redor. 

Os princípios das Nações Unidas que vocês estabeleceram estão sob ataque.

Ouçam: Os pilares da paz e do progresso estão cedendo sob o peso da impunidade, da desigualdade e da indiferença.

Nações soberanas invadidas.

A fome transformada em arma. 

A verdade silenciada.

Fumaça subindo de cidades bombardeadas.

Raiva crescente em sociedades fragmentadas.

O aumento do nível do mar engolindo o litoral.

Cada um deles é um aviso. 

Cada uma delas é uma pergunta.

Que tipo de mundo escolheremos? Um mundo de poder bruto — ou um mundo de leis?

Um mundo em que prevalece a luta pelo interesse próprio — ou um mundo em que as nações se unem?

Um mundo em que o poder faz a justiça — ou um mundo de direitos para todas as pessoas?

Excelências,

Nosso mundo está se tornando cada vez mais multipolar. 

Isso pode ser positivo — refletindo um cenário global mais diversificado e dinâmico.

Mas a multipolaridade sem instituições multilaterais eficazes pode levar ao caos — como a Europa aprendeu da maneira mais difícil, resultando na Primeira Guerra Mundial. 

Sejamos claros: A cooperação internacional não é ingenuidade.

É pragmatismo realista.

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