Por Caco Araújo
Nos dois últimos meses estive nas ruas de São Paulo, junto com os jornalistas Rodrigo Bruder e Walter Frank, gravando o documentário “Sob a mira da indiferença”, que trata da temática do jovem e a sua vulnerabilidade social, que o conduz à prática de delitos
. O documentário discute as circunstâncias em que o jovem se envolve na vida do crime, além de mostrar a difícil vida nas ruas.
Dentro de todo esse contexto encontramos Wanderson, 20 anos, ex interno da Fundação Casa, a antiga Febem, e morador de rua. Sua casa é o Vale do Anhangabaú, no coração de São Paulo. Esse jovem tem no skate uma forma de se afastar do crime, não obstante ao fato de morar nas ruas e se sujeitar às situações adversas com as quais convive e o roteiro do documentário conta um pouco da história desse rapaz. Dentre inúmeras observações que poderia fazer, destaco uma: O impasse existente entre responsabilidade social para com os moradores de rua e a necessidade de limpeza pública, conflito existente na Prefeitura de São Paulo. É evidenciado que essas questões caminham em direções opostas, conforme constatamos após uma hora coletando entrevistas no Vale do Anhangabaú. Assistimos e documentamos a ação da prefeitura, tomando à força cobertores de moradores de rua, além de mais algumas atitudes desumanas e, como não poderia ser diferente, questionamos pessoalmente o Sr. Floriano Pesaro, secretário de desenvolvimento social da a respeito dessa questão, como segue:
“Essa é a grande questão, esse é o grande dilema que vivemos entre a área social e o interesse público, nós temos sim uma responsabilidade social com essas pessoas e precisamos tirar eles das ruas, da mesma forma, a prefeitura tem uma responsabilidade de limpeza urbana, de forma coletiva de forma que todos possam se respeitar, e todos possam usufruir do espaço público.
Há uma determinação expressa, tanto do Ministério Público quanto da própria prefeitura de que as pessoas não vão morar nas ruas, nem embaixo de viadutos, ainda que algumas pessoas defendam que se tenha o direito de morar nas ruas, mas morar de forma a ter colchão, cobertor, sofá, papelão em tudo quanto é canto, não dá. A rua é um lugar de todos e, vou dizer mais, de certa forma até o trabalho que é feito pela limpeza urbana acaba ajudando a área social, de modo que as pessoas ao perderem parte de suas roupas, parte de suas doações, também se interessem em ir buscar ajuda muito mais efetiva, que são as ajudas que podem ser ofertadas nos equipamentos sociais da prefeitura”
Diante das imagens documentadas em vídeo observa-se algumas inconsistências entre o que fala o Sr. Secretário e a vida real, no entanto pretendo manter-me isento de opinião a respeito. Durante as caminhadas pelo centro de São Paulo com bastante frequência observamos crianças cheirando cola e jovens fumando maconha, em plena luz do dia, o que, acredito eu, não desperta tanta surpresa, afinal, a mídia sempre discutiu bastante esse assunto, no entanto, a experiência de sentar no Vale às 21h e conversar com os jovens que ali estão, é bem diferente do que vemos na TV. A dependência química e o desprezo da sociedade formam uma combinação terrível, chamada Crime.
Parabéns à equipe pelo brilhante trabalho. Abordagem, entrevista, texto, tudo na mais perfeita harmonia.
Vc sabe para qual time de futebol ele torce?
Sucesso
Também já presenciei esse trabalho de “limpeza” realizado pela prefeitura e me assustei bastante. Guardas civis metropolitanos de armas em punho arrancando cobertores de crianças. Absurdo…