Enviado por: Professor José Luiz Negrão Mucci/ Faculdade de Saúde Pública da USP *Editado por Ambiente do Meio
O Homo sapiens é uma espécie gregária que sempre busca viver próximo a seus semelhantes fixando-se em vilarejos ou cidades.
Desde a antiguidade, o estabelecimento das cidades se dá próximo a corpos hídricos como rios e em situações especiais, o mar. Em razão disso, toda cidade, independentemente de seu tamanho, tem um rio diretamente associado a ela. São exemplos marcantes os rios Tâmisa em Londres, Sena em Paris, Tietê em São Paulo entre outros.
Nas cidades, esses corpos hídricos são ao mesmo tempo mananciais de onde se retira água para abastecer a população e receptores de esgoto sanitário e industrial além de outros dejetos, transformando-os ao mesmo tempo em fonte de saúde e de enfermidades.
As doenças transmitidas pela ingestão de água contaminada são normalmente associadas a microrganismos como bactérias que causam diarreias, principal característica das doenças de veiculação hídrica, mas compostos químicos presentes na água podem também ser nocivos. No Brasil, os parâmetros de qualidade de água para consumo são determinados pela PORTARIA GM/MS Nº 888, DE 4 DE MAIO DE 2021.
Cabe aqui ressaltar que a matéria orgânica proveniente da descarga de esgoto em corpos de água favorece também o crescimento excessivo de algas que podem representar um problema importante de Saúde Pública. Nesse sentido, merece especial atenção o desenvolvimento das cianobactérias que ocorre com máxima intensidade quando outros fatores ambientais como temperatura alta e luminosidade intensa estão presentes.
As cianobactérias são algas que recebem esse nome por apresentarem algumas características químicas e biológicas, presentes tanto em algas quanto em bactérias.
Ecologicamente, as cianobactérias são consideradas organismos pioneiros, isto é, são os primeiros a se estabelecer em ambientes aquáticos ricos em matéria orgânica. Para garantir seu pleno desenvolvimento, inibem o surgimento de competidores, por meio da produção de substâncias tóxicas conhecidas como cianotoxinas. Tais compostos que têm natureza química variável, podem muitas vezes não ser desativados pelo tratamento convencional, alterando as características organolépticas da água que chega ao consumidor final, conferindo à água, sabor e odor de barro, de peixe, de cloro, etc., dependendo da espécie de cianobactéria que estiver em floração (crescimento excessivo) no reservatório.

Porém, muito mais sério do que a alteração do odor e do sabor da água é o fato de as toxinas comprometerem a saúde dos indivíduos pertencentes às faixas etárias mais sensíveis (crianças pequenas e idosos) causando desde dermatites até desconforto gastrointestinal, o que pode ser bastante grave, dependendo do estado geral de saúde das pessoas afetadas.
Tendo em vista o risco à saúde representado pela presença de toxinas na água, a portaria do Ministério da Saúde citada anteriormente, determina um rígido monitoramento e controle destas substâncias nos mananciais, inclusive recomendando explicitamente que:
quando detectada a presença de cianotoxinas na água tratada, na saída do tratamento, será obrigatória a comunicação imediata a autoridade de saúde pública, às clínicas de hemodiálise e às indústrias de injetáveis. ”
Em São Paulo, a SABESP (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo) iniciou no final dos anos 1990 o monitoramento em tempo real dos reservatórios Guarapiranga, Billings, Rio Grande e Taiaçupeba, como informam Hanisch e Freire-Nordi, em trabalho publicado no ano de 2015.
A água de abastecimento que chega às nossas casas é totalmente segura do ponto de vista sanitário desde que o reservatório domiciliar seja receba a manutenção adequada, porém não devemos esquecer que nosso enorme país tem enormes disparidades em termos de disponibilidade serviços de saneamento e que nem todas as doenças diarreicas são provenientes da ingestão de “comida estragada”. A água contaminada muitas vezes é a real “culpada”. Sendo assim, o cuidado ao beber água nessas regiões com saneamento deficiente, deve ser ainda maior.
Referências Bibliográficas
BRASIL Ministério da Saúde PORTARIA GM/MS Nº 888, DE 4 DE MAIO DE 2021.
Hanisch, W. e Freire-Nordi, C. S. “Monitoramento remoto em tempo real de mananciais visando às florações de cianobactérias” pp. 190-211 In: Pompeo et al. (Orgs.) Ecologia de reservatórios e interfaces, São Paulo: Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, 2015.
Genuário DB y col. Cyanobacterial community and microcystin production in a recreational reservoir with constant Microcystis blooms. Hydrobiologia 779:105–125 (2016).
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