Alterações climáticas, Agricultura, Recursos Hídricos: Dom Eliseu e a agricultura da soja na Amazônia Paraense

Carla Sadeck (Universidade do Estado do Pará), Dênis José Cardoso Gomes (Universidade do Estado do Pará), PROFA. NORMA ELY S. BELTRÃO (UEPA – UNIV. DO ESTADO DO PARÁ)

As alterações climáticas representam um dos desafios mais urgentes da atualidade, com consequências significativas para a agricultura e os recursos hídricos em várias regiões do mundo (ASSAD, 2020). Além das mudanças climáticas, a expansão acelerada da agricultura, o desmatamento, a irrigação excessiva e o uso de agroquímicos são fatores antrópicos que contribuem para a redução das chuvas em determinadas regiões, como é o caso da Região de Dom Eliseu, no nordeste da Amazônia Paraense (SANTOS et al., 2017). A agricultura desempenha um papel fundamental na economia global, sendo uma das atividades mais antigas e essenciais para a humanidade. Além de fornecer alimentos para a população mundial, a agricultura desempenha um papel crucial no desenvolvimento econômico e social de muitos países. Ela gera empregos, tanto no cultivo de plantas e criação de animais quanto em atividades relacionadas, como processamento de alimentos, distribuição e comercialização. Além disso, a agricultura contribui significativamente para a produção e o comércio de bens, como grãos, frutas, legumes, carne e laticínios, que têm alto valor comercial e são exportados e importados em larga escala. Esses produtos agrícolas desempenham um papel crucial no equilíbrio da balança comercial de muitas regiões, ajudando a gerar receitas e promover o crescimento econômico. Além do aspecto de produção e comércio, a agricultura também desempenha um papel crucial na segurança alimentar e no abastecimento interno de muitos países. A capacidade de produzir alimentos de forma sustentável e garantir um suprimento estável é essencial para evitar crises alimentares e dependência excessiva de importações. Além disso, a agricultura pode impulsionar o desenvolvimento rural, fornecendo oportunidades para melhorar a infraestrutura, os serviços e a qualidade de vida nas áreas rurais. Investir na agricultura, incluindo a melhoria da produtividade, acesso a crédito e tecnologia, pode gerar impactos positivos na economia local, reduzindo a pobreza e estimulando o crescimento econômico sustentável.

Diante desse contexto, esta pesquisa tem como objetivo observar a expansão da agricultura da soja na Região de Dom Eliseu, no nordeste da Amazônia Paraense, a fim de analisar os impactos que essa expansão pode causar nos recursos hídricos da região, especialmente nas proximidades da nascente do rio Gurupi. Por meio de dados extraídos do MAPBIOMAS 2023 COLEÇÃO 7, que apresenta informações sobre o uso e cobertura do solo nos últimos anos, e de dados coletados no sistema Agrolink, foi possível identificar a expansão da agricultura da soja nessa região, em particular nas proximidades da nascente do rio Gurupi, localizadas no nordeste do estado do Pará.

Segundo a Resolução nº 04/2008 CERH, o nordeste do estado do Pará é caracterizado pelas bacias hidrográficas que compõem a Região Hidrográfica Costa Atlântica Nordeste. Essa região abrange uma área total de 138.830,38 km², dos quais 87,6% estão localizados no estado do Pará, representando 11% do território. Ela abrange 67 municípios, incluindo 59 sedes municipais. No estado do Maranhão, essa região abrange 12,4% da área total e inclui 19 municípios, com 6 sedes municipais. Essa região possui grande importância para o estado do Pará, pois representa a principal fronteira com o estado do Maranhão e desempenha um papel significativo na dinâmica socioeconômica (LIMA et al., 2017).

Materiais e métodos

Para identificar e mapear as áreas de soja no município de Dom Eliseu, utilizou-se o produto de uso e cobertura do solo do Projeto MapBiomas (2023) coleção 7. Os dados de precipitação foram obtidos das estações pluviométricas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O mapeamento e a quantificação da área de soja foram realizados no software gratuito QGIS 3.22. Para analisar se houve aumento ou diminuição da recarga hídrica, aplicou-se o teste estatístico Mann-Kendall (MKz). Também foi calculado o Índice de Anomalia de Chuva (IAC) para identificar os anos com escassez ou excesso hídrico.

Resultados e discussões

A expansão da agricultura em Dom Eliseu alcançou cerca de 751,8 km², sendo que 677,1 km² foram destinados à produção de soja. Entre 1985 e 2021, a área alagada diminuiu de 4,6 km² para 1,2 km², o que indica uma redução na disponibilidade hídrica local. Além disso, a precipitação apresentou uma tendência negativa estatisticamente significativa (S = -17; Sen’s slope = -2,0; MKz = -13,9), uma vez que a precipitação depende da evapotranspiração da água presente na superfície terrestre. Os anos de 1985 (5,0 mm) e 1989 (7,6 mm) foram classificados como extremamente chuvosos, com excedentes hídricos. No entanto, ao longo dos anos, observou-se uma considerável redução do abastecimento pluviométrico, caracterizando uma escassez hídrica nas últimas décadas, especialmente nos anos de 2012 (-3,6 mm) e 2015 (-3,5 mm), que registraram os menores volumes de chuva. Esses extremos negativos possivelmente ocorreram em anos sob efeitos de fenômenos climáticos inibidores de recarga pluvial. No entanto, a intensa retirada da cobertura vegetal de forma não sustentável, especialmente nas proximidades da cabeceira do rio Gurupi, possivelmente influenciou na disponibilidade hídrica da região, como por exemplo a redução do quantitativo de água no processo de retroalimentação da atmosfera via evapotranspiração e consequentemente no regime de chuvas. Este cenário é preocupante, uma vez que a segurança hídrica regional depende do equilíbrio da relação entre o ser humano e a natureza.

Conclusão:

Diante desse contexto, é fundamental adotar medidas de mitigação e adaptação de práticas agrícolas sustentáveis. A conservação do solo, o uso eficiente de água e a diversificação de culturas são ações que contribuem para minimizar os impactos negativos na disponibilidade hídrica. Para enfrentar os desafios impostos pelas alterações climáticas e garantir a sustentabilidade da agricultura e dos recursos hídricos em Dom Eliseu, é essencial uma gestão adequada dos recursos hídricos, envolvendo governos, agricultores e comunidades locais. Esse resumo destaca a interação complexa entre as alterações climáticas, a agricultura e os recursos hídricos, ressaltando a importância de uma abordagem integrada e sustentável para lidar com os desafios ambientais da atualidade.

Referencias:

ASSAD, Eduardo Delgado et al. Efeito das mudanças climáticas na agricultura do Cerrado. 2020.

CORDEIRO, Victor Vartuli et al. Os RIOS VOADORES E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS OCASIONADAS PELO DESMATAMENTO DA FLORESTA AMAZÔNICA:: UMA PERSPECTIVA A PARTIR DO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO. Revista Brasileira de Direito Animal, v. 16, n. 3, p. 100-115, 2021.

DOS SANTOS, Antonio Marcos; GALVÍNCIO, Josiclêda Domiciano; DE MOURA, Magna Soelma Bezerra. Os recursos hídricos e as mudanças climáticas: discursos, impactos e conflitos. 2010.

ENRÍQUEZ, Maria Amélia. Amazônia e seus desafios para um novo modelo de desenvolvimento. SUSTENTABILIDADE, p. 73, 2021.

GONÇALVES, Dalila da Costa. Educação Ambiental crítica: um pensar no contexto das mudanças climáticas. 2022

LIMA, Isabela Farias et al. de Análise Da Paisagem Aplicada a Bacia Do Rio Gurupi Pa/Ma. Proceedings of the XXII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Florianópolis, Brazil, p. 1-8, 2017.

SANTOS, Thiago Oliveira et al. Os impactos do desmatamento e queimadas de origem antrópica sobre o clima da Amazônia brasileira: um estudo de revisão. Revista Geográfica Acadêmica, v. 11, n. 2, p. 157-181, 2017.

VIEIRA, Pedro Abel; BUAINAIN, Antônio Márcio; CONTINI, Elisio. Amazônia: um mosaico em construção. Revista de Política Agrícola, v. 28, n. 4, p. 134, 2020

Leia o trabalho na íntegra aqui

Foto: Wikipedia

Deixe um comentário