Danos ambientais na Faixa de Gaza prejudicam a saúde humana e ameaçam a segurança alimentar e hídrica a longo prazo

Contribuição ONU/PNUMA

Dois anos de conflito crescente causaram danos ambientais sem precedentes na Faixa de Gaza, prejudicando seus solos, suprimentos de água doce e litoral, segundo um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). 

O Impacto Ambiental do Conflito na Faixa de Gaza (disponível em inglês, The Environmental Impact of the Conflict in the Gaza Strip), divulgado hoje, afirma que a recuperação de alguns desses danos pode levar décadas. A avaliação vem um mês depois que um painel de especialistas independentes determinou que partes de Gaza estão em estado de fome.  

“Acabar com o sofrimento humano que tomou conta de Gaza deve ser a primeira prioridade”, disse Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA. “Restaurar os sistemas de água doce e remover os escombros para permitir o acesso humanitário e restaurar os serviços essenciais são medidas urgentes para salvar vidas. A recuperação da vegetação, dos ecossistemas de água doce e do solo também será fundamental para a segurança alimentar e hídrica e para garantir um futuro melhor para o povo de Gaza.”  

Entre as principais conclusões do relatório estão: 

  • O abastecimento de água potável em Gaza é extremamente limitado e grande parte do que resta está poluído. O colapso da infraestrutura de tratamento de esgoto, a destruição dos sistemas de canalização e o uso de fossas para saneamento provavelmente aumentaram a contaminação do aquífero que abastece grande parte de Gaza com água. As áreas marinhas e costeiras também estão provavelmente contaminadas, embora não seja possível realizar testes no momento.  
  • A crise hídrica contribuiu para um aumento repentino de doenças infecciosas, incluindo casos de diarreia aquosa aguda (que aumentou 36 vezes) e síndrome de icterícia aguda, indicativa de hepatite A (que aumentou 384 vezes).  
  • Grande parte da vegetação de Gaza foi destruída. Desde 2023, o enclave perdeu 97% de suas árvores frutíferas, 95% de seus arbustos e 82% de suas culturas anuais. A produção de alimentos em grande escala não é possível. Isso ocorre em um momento em que mais de 500 mil pessoas em Gaza enfrentam condições de fome, com cerca de 1 milhão de outras em situação de emergência alimentar. 
  • Cerca de 78% dos 250 mil edifícios estimados de Gaza foram danificados ou destruídos. Isso gerou 61 milhões de toneladas de escombros — aproximadamente o equivalente a 15 Grandes Pirâmides de Gizé ou 25 Torres Eiffel em volume. Cerca de 15% desses escombros podem apresentar um risco relativamente alto de contaminação por amianto, resíduos industriais ou metais pesados, se os fluxos de resíduos não forem efetivamente separados desde o início. 
  • A perda de vegetação e a compactação causada pelas atividades militares afetaram a estrutura do solo e reduziram sua capacidade de absorver água, aumentando os riscos de escoamento e inundações e reduzindo a recarga dos lençóis freáticos. 

O relatório foi elaborado a pedido do Estado da Palestina. É a segunda vez, desde outubro de 2023, que o PNUMA realiza uma avaliação ambiental dos danos causados pelo conflito em Gaza. Em quase todos os aspectos, o ambiente do território deteriorou-se drasticamente desde a última avaliação, em junho de 2024. Por exemplo, a quantidade de detritos aumentou 57% e agora é 20 vezes maior do que o total de detritos gerados por todos os conflitos em Gaza desde 2008. 

“A situação está indo de mal a pior”, disse Andersen. “Se isso continuar, deixará um legado de destruição ambiental que poderá afetar a saúde e o bem-estar de gerações de residentes de Gaza.”   

Devido a restrições de segurança, a equipe do PNUMA não pôde viajar para Gaza. A avaliação foi realizada por meio de uma combinação de sensoriamento remoto, incluindo análise de imagens de satélite, e observações de campo feitas por outras agências da ONU. O relatório faz parte de um trabalho mais amplo do PNUMA para ajudar as nações a lidar com as consequências ambientais de desastres e conflitos. Desde 1999, o PNUMA já apoiou mais de 40 países afetados por crises. 

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