nhPor: COESUS e 350.org

Em novembro do ano passado, os testes sísmicos aconteceram na região Norte e Noroeste do Paraná e levaram pânico aos moradores da região metropolitana de Londrina. Foram registrados tremores de até 1,9 graus na Escala Richter e centenas de casas apresentaram rachaduras e muitas foram condenadas.
A presença de seis caminhões vibradores para realização de testes e aquisição sísmica para petróleo e gás de xisto patrocinados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no Norte Pioneiro do Paraná representa uma séria ameaça o projeto turístico Angra Doce. Isto porque a partir dos testes, é certo que haverá exploração comercial através da técnica do fraturamento hidráulico, tecnologia altamente poluente também conhecida como FRACKING e que inviabilizará o projeto de preservar as belezas naturais da região.
Encampado por 15 municípios que margeiam os rios Paranapanema e Itararé no lago formado pela Usina Hidrelétrica de Xavantes, o projeto pretende consolidar o turismo na região e recebeu o nome de Angra (por similaridades com Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro) Doce (por ser de água doce). Atualmente, turistas dos quatro cantos do Brasil escolhem o local com vegetação remanescente da Mata Atlântica para prática de esportes como canoagem, rafting, trekking, voo livre, paraglider, passeios náuticos, cavalgadas, caça e pesca.
Integram o Projeto Angra Doce cinco municípios do Paraná: Jacarezinho, Ribeirão Claro, Carlópolis, Siqueira Campos e Santana do Itararé; e 10 de São Paulo: Ourinhos, Chavantes, Fartura, Itaporanga, Canitar, Ipaussu, Timburi, Piraju, Bernardino de Campos e Barão de Antonina.
Verdadeira intenção
“A sísmica é apenas a ponta do iceberg para a verdadeira intenção da ANP que é explorar comercialmente o gás do folhelho de xisto (shale gas)”, explica o fundador da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil e pela Sustentabilidade – e coordenador de Campanhas Climáticas da 350.org, Eng. Dr. Juliano Bueno de Araujo.
Preocupada com a intenção do governo federal em fazer Fracking numa região de Mata Atlântica e grandes reservas de água doce que abastecem o Aquífero Guarani, a COESUS alertou vários prefeitos da região Norte Pioneiro sobre os testes e os perigos e impactos para o ambiente, as reservas de água subterrâneas e de superfície, a agricultura, a saúde das pessoas e animais e para o clima. A Coalizão também está mobilizando entidades, movimentos sociais e gestores das cidades de São Paulo que fazem parte do projeto para encampar a luta contra o fraturamento hidráulico.
Segundo Juliano, “a solução a curto prazo para barrar essa exploração para reservas futuras é aprovar leis municipais que proíbam testes e exploração comercial por Fracking, enquanto não há uma legislação nacional que o faça”. Até agora, das 372 cidades em 15 estados brasileiros que são áreas de risco, apenas 55 estão protegidas com leis que baniram o fraturamento hidráulico. Mais de 80 estão debatendo e encaminhando propostas nesse mesmo sentido.
“Sabemos que os testes sísmicos vão embasar novos leilões e não podemos permitir que isso aconteça sem que a sociedade civil, entidades e gestores sejam informados dos riscos e perigos deste método não convencional para extração de gás de xisto do subsolo e se posicionem”, completa.
Falta transparência
A ANP, mais uma vez, age sem transparência e responsabilidade. Não informou a população e nem os gestores públicos sobre os verdadeiros motivos e a extensão dos testes sísmicos. É tanto descaso e desinformação que o Diretor Presidente do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Luiz Tarcísio Mossato Pinto, encaminhou na última quinta-feira, 02, ofícios ao Ministro do Meio Ambiente, Deputado Federal Sarney Filho (PV-MA), à Diretora Geral da ANP, Magda Chambriard, e para a Presidente do Ibama, Marlene Ramos (OBS: Suely Araújo assumiu a presidência do IBAMA no dia 03 de junho).
No ofício, o IAP solicita “informações dos eventuais licenciamentos ambientais emitidos pelo Governo Federal para a realização de testes sísmicos em Carlópolis, Santa do Itararé e Ribeirão Claro para informar a população afetada sobre as atividades autorizadas e os possíveis impactos da realização de testes sísmicos”.
Lembramos que o ministro Sarney Filho é autor do PL 6904/2013 que propõe uma moratória de 10 anos para exploração do folhelho de xisto e, portanto, tem plena consciências dos impactos ambientais, econômicos e sociais. Em vários embates na Câmara Federal, o ministro se posicionou contrário ao Fracking e defendeu investimentos em energias renováveis, limpas, seguras e justas.
Pânico e prejuízos
Desde o último dia 27 de maio, a empresa Global Serviços Geofísicos realiza testes na região do Norte Pioneiro. Em Bela Vista do Paraíso, moradores ficaram assustados com os tremores provocados pelos caminhões vibradores no perímetro urbano.
Em Ribeirão Claro, o prefeito Geraldo Maurício Araujo contou que a empresa descumpriu um acordo de não realizar sísmica dentro da cidade. “Mesmo assim, os caminhões estiveram em algumas ruas e os tremores provocaram alguns prejuízos em vidraças, tetos de gessos e agitação entre a população”, informa.
Um dos articuladores do projeto Angra Doce, que alavancará o turismo na cidade, o prefeito de Ribeirão Claro está determinado a impedir que estes testes prosperem, bem como operações de Fracking na cidade. “Estamos tomando as providências que nos cabem para proteger a nossa gente, nossa cidade e a região como um todo, encaminhando à Câmara de Vereadores uma lei que proíba esse tipo de tecnologia aqui”, adianta.
Em Carlópolis, cidade que também integra o Projeto Angra Doce, os caminhões vibradores realizaram testes na região central da cidade, onde os moradores puderam sentir a intensidade dos tremores.
Veja :