A Importância dos Sítios Naturais Sagrados no Brasil

Por Érika Fernandes-Pinto/SBE

Em todo mundo existem milhares de lugares onde elementos da natureza são considerados, por diversos grupos sociais, como templos ou santuários naturais.

A eles são atribuídas características especiais que os distinguem como extraordinários, comumente envoltos em uma aura de mistério, magia e milagres. Nas últimas décadas, esse tema vem adquirindo visibilidade crescente nos principais fóruns mundiais sobre políticas públicas e os denominados Sítios Naturais Sagrados (SNS) têm sido objeto de recomendações e diretrizes visando o seu reconhecimento e salvaguarda.

Em grande parte dos países, no entanto, o conhecimento sobre o tema é limitado e as iniciativas de proteção e manejo de SNS em políticas nacionais são ainda incipientes.

Esse é o caso do Brasil – um país continental que conjuga uma das maiores riquezas biológicas do mundo a uma também expressiva pluralidade sociocultural e religiosa – onde os significados culturais e espirituais da natureza vêm sendo pouco valorizados e, consequentemente, também negligenciados nas estratégias para a sua proteção. Além disso, em meio a um substancial conjunto de informações mundiais sobre o tema, chama a atenção que sejam raras as referências ao contexto brasileiro.

Esse quadro instigou uma pesquisa exploratória que resultou na Tese de Doutorado intitulada Sítios Naturais Sagrados do Brasil: inspirações para o reencantamento das áreas protegida, defendida em março de 2017 no âmbito do Programa EICOS de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social da TESE DE DOUTORADO REVELA A IMPORTÂNCIA DOS SÍTIOS NATURAIS SAGRADOS NO BRASIL UFRJ. O trabalho ganhou o prêmio de melhor tese de doutorado do biênio da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Meio Ambiente e Sociedade (ANPPAS), em outubro de 2017, e foi também um dos vencedores do Prêmio Darell Posey da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE), em 2016. Desenvolvida com apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), onde a autora atua profissionalmente, a tese investiga as razões da aparente invisibilidade do tema na gestão pública ambiental e busca compreender como os SNS podem inspirar a reconexão entre sociedade e natureza. Entre o rigor da escrita científica e o encantamento do tema, a tese nos conduz a uma jornada por um mundo de histórias pitorescas, grande beleza cênica e profunda emoção.

Os resultados mostram o grande potencial do território brasileiro quanto à ocorrência de SNS – com mais de 500 sítios identificados – e ilustram o quão popular e habitual pode ser a manifestação deste fenômeno nas diferentes regiões do país, associado a práticas e manifestações culturais de diversos segmentos sociais e religiosidades.

A relevância social da temática, entretanto, contrasta com a incipiente abordagem do assunto no campo acadêmico e das políticas públicas nacionais.

A compilação de um vasto referencial bibliográfico sobre o tema foi possível graças ao desenvolvimento de uma estratégia inovadora de construção colaborativa de conhecimento, intitulada REDE SNS Brasil, utilizando múltiplas estratégias de busca de informações e ferramentas de mídias sociais.

As cavernas representam parte expressiva dos sítios registrados. Tanto reverenciadas como temidas, associadas a lendas, relatos de aparições de divindades, morada de seres mitológicos ou manifestação de fenômenos considerados milagrosos, foram identificadas 116 cavidades naturais com conotação sagrada no Brasil.

Os casos mais estudados são daquelas relacionadas ao catolicismo, com grande fluxo turístico e realização de romarias e festividades religiosas, como a Gruta das Mangabeiras/BA e o Santuário de Bom Jesus da Lapa/BA. Cavernas sacralizadas por outras tradições religiosas são pouco documentadas no país, indicando um potencial ainda subestimado.

Busca-se, assim, lançar sementes e instigar os leitores para o potencial dessa temática em contribuir para despertar a sociedade para a importância da natureza, valorizando não apenas seus aspectos utilitários, mas também simbólicos e espirituais.

Investigações espeleológicas podem ter uma contribuição estratégica para a compreensão desse fenômeno, inspirando novas formas de entender a relação entre cultura e natureza e colaborando para delinear abordagens inovadoras que favoreçam essa tão necessária reconexão.

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