Ilhéus, 08 de março de 2018.
As abelhas, reconhecidamente os insetos polinizadores mais importantes do planeta, responsáveis por 75% da produção de alimentos, estão desaparecendo progressivamente desde 2006. A pesquisa científica internacional tem demonstrado a relação direta entre o uso indiscriminado de agrotóxicos com o colapso das colônias. Porém, a junção das forças da pesquisa brasileira com as commodities internacionais do agronegócio e dos agrotóxicos leva ao falso entendimento de que é possível a convivência pacífica entre a agricultura convencional, a apicultura, a meliponicultura e o modelo econômico vigente.
Contrariando as evidências científicas e negando o alto custo social, econômico e ambiental de ser o maior consumidor mundial de agrotóxicos, o governo brasileiro negocia a liberação total dos pesticidas através do Projeto de Lei (PL) 6299/2002, conhecido como Pacote do veneno, em uma aliança nacional perversa tem se esforçado em convencer a população de que o agronegócio não apenas é pop, mas o único modelo de desenvolvimento econômico rural e de soberania alimentar.
Como mulheres ancoradas na longa tradição do cultivo da vida e contrárias ao “agro pop”, reconhecemos a necessidade de passarmos por um período de transição entre a agricultura tradicional e as práticas agroecológicas, respeitosas ao meio ambiente. Nesse sentido, o que propomos difere-se do modelo único vendido pelas grandes multinacionais do veneno, que dissimulam seus interesses puramente comerciais.
Somos a favor do desenvolvimento da agricultura com práticas de base agroecológica, cuja possibilidade é demonstrada pela Sociedade Científica Latinoamericana de Agroecologia, e defendemos que a apicultura e a meliponicultura sejam instrumentos de geração de renda, atreladas à educação ambiental.
Defendemos uma prática científica que seja aliada da restauração de uma relação mais harmoniosa entre mulheres, homens e meio ambiente e que se coloque a serviço do desenvolvimento social e econômico das comunidades humanas e não se subjugue ao lucro das grandes corporações.
Desta forma, somos contrárias às práticas de manejo imediatistas e desconectadas do respeito aos ciclos da vida, como a alimentação artificial das abelhas com promotores de crescimento e suplementos alimentares administrados sem comprovação científica de seus efeitos a curto, médio e longo prazo no desenvolvimento e manutenção das colmeias e do próprio ecossistema.
Nos posicionamos igualmente contrárias à apropriação do nome “ABELHA” pelas corporações responsáveis pela venda, distribuição e promoção dos venenos que provocam o assassinato em massa desses insetos e causam prejuízo econômico e social a inúmeras comunidades.
Dessa maneira, o Grupo Guardiãs das Abelhas, constituído por pesquisadoras, técnicas, professoras, estudantes, amantes, extensionistas e, sobretudo apicultoras e meliponicultoras de todo o Brasil, luta para que as abelhas voltem a ser consideradas animais sagrados e respeitados por seu papel vital na Terra.
Contato: guardiansdasabelhas@gmail.com